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O Tema é Frevo: Documento vol.1

Pesquisa: Mahavidya
Recife, dezembro de 2025.

Comentários (Ipsis litteris):
Bartolomeu Noronha
Penuel Pereira Ramos



Centenário Levino Ferreira: O Mestre-Vivo do Frevo

A sensibilidade é o elemento propedêutico e também o tempero mais eficaz de que se vale o homem na busca da criação artística. Ela registra a capacidade da grandeza humana. Assim acontece na Literatura, na Religião, na Música... O subjetivo materializa-se e deixa sua passagem , significativo o legado da grandeza artística até hoje, nesse final do século que se avizinha: Machado de Assis, mestre da nossa Literatura; Wolfgang Amadeus Mozart, gênio da música universal; Levino Ferreira da Silva, "O Mestre-Vivo", mentor da música representativa do estado de Pernambuco, o Frevo.

O Frevo é música buliçosa, ardente. Em Levino Ferreira , a bonomia é a grande característica ; na sua música, a bonança dita a estrutura. Resultado: Um estilo ímpar, infinitamente belas as composições.
• Da extensa discografia de Levino Ferreira iniciada em 1935 , o Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco (CEMCAPE) selecionou composições gravadas em discos de 78 rpm.
• Como também em pesquisas realizadas, alcançou as composições inéditas "Fala, Pierrot", "Pernambuco Falando para o Mundo", "Lá Vai Tempo" e "Rádio Patrulha" , de 1940 , 1948 , 1949 e 1951, culminando com esta produção.

Trabalho de sol e sereno estendido aos apreciadores do Frevo pernambucano e aos "draconianos" da música , o "Centenário Levino Ferreira" sustenta-se na Direção musical do maestro "DUDA".

Decisiva a participação do Serviço Público neste evento:

• Fundação de Cultura Cidade do Recife, por seu Diretor-Executivo Roberto José Marques Pereira.
• Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), na pessoa de Leonides Alves.
• Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, com a graça de Leda Alves.
• Prefeitura do Município de Bom Jardim, por seu Prefeito, o Sr. Sebastião Rufino.

Também de bom fôlego e funda importância foi a colaboração da Sra. Geralda Farias, Vereadora do Município do Recife.

O Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco (CEMCAPE) estende seus agradecimentos à Família Levino Ferreira pelas constantes acolhidas às nossas súplicas e pelo beneplácito à gravação das músicas de Levino Ferreira, nesta passagem do centenário do "Mestre-Vivo", em 1990.

Comentário:
Bartolomeu Noronha - 1º Secretário do CEMCAPE



Levino Ferreira

Biografia

O Mestre Levino Ferreira da Silva nasceu no dia 2 de dezembro de 1890, numa modesta casa da antiga Rua da Lama, na cidade de Bom Jardim - PE – terra dos Pau d’arcos, berço natal de grandes musicistas. Era filho de João Ferreira da Silva e de Maria Bemvinda do Amor Divino.

Começou a estudar música muito cedo e, aos 10 anos de idade, o povo já o admirava porque já compunha. O primeiro instrumento que aprendeu a tocar foi a Trompa, na Banda do maestro Tadeu Ferreira. Estudou com os professores José Ferreira de Souza Sedícias, Ascendino da Mota Silveira, Cazuza Ferreira e Pompeu Ferreira. Em todo o seu aprendizado, só fora preciso receber 80 aulas, dali por diante ele aprendeu sozinho. Aprendeu a tocar todos os instrumentos de uma banda, tomando o lugar de qualquer músico que faltasse aos ensaios ou às apresentações em público.

Em 1912, Mestre Viva – apelido pelo qual era conhecido por ter sido considerado morto quando contava 12 meses de idade – era diretor e regente da Banda Musical 22 de Setembro. Exerceu as funções de Maestro nas cidades de Bom Jardim, João Alfredo, Salgadinho, Limoeiro e na antiga Queimada, viajando a cavalo. Aos 36 anos de idade, Levino Ferreira casou-se com a senhorita Almerinda Amélia da Silva, de 21 anos, na Igreja de João Alfredo, no ano de 1926, celebrado pelo padre João Pacífico.

Depois de casado, só passou 6 meses em Bom Jardim, porque o General do Frevo, José Gonçalves Júnior (mestre Zumba), o levou para Limoeiro para reger a banda Independência. Em Limoeiro, ele ministrou aulas de Piano, Violão, Bandolim e Violino. Dentre os seus inúmeros alunos, citamos Carminha Negromonte, Dona Lia Mota, Lourdinha Heráclio, Geralda Magalhães, Antônio José de Oliveira (mestre Caramuru). Ainda em Limoeiro, organizou orquestra de frevo e ensaiava de portas fechadas no local onde é hoje a gráfica do senhor Antônio Demétrio

Depois de residir 9 anos em Limoeiro, o mestre Zumba o carregou novamente, desta vez para o Recife. Tendo feito parte da Orquestra de Frevos da Rádio Clube de Pernambuco, onde tocou Clarinete, Trombones de vara e de pisto e Trompete, a convite do maestro Vicent. Nessa época, escreveu a sua grande obra, A Dança do Cavalo Marinho, especialmente para a Orquestra Sinfônica do Recife, que o tornou famoso no mundo inteiro. Considerada música erudita de tema do folclore pernambucano, foi apresentada pela Orquestra Sinfônica do Recife , pela Grande Orquestra da P.R.A 8 dirigida por Felipe Caparrós , pela B.B.C. de Londres e pela Orchestre Symphonique International em Paris, em 12.02.1958, sob a regência do maestro Mário Cancio. Fittipaldi foi para a Orquestra Sinfônica do Recife, onde foi Fagotista.

Na Orquestra da Rádio Clube de Pernambuco, participou do Quarteto Ladário Teixeira, sob a direção de Felinho. Seus componentes eram: Felinho (Sax alto), Zumba (Sax tenor), Antonio Medeiros (Sax alto), Levino Ferreira (Sax barítono). Em 1945, quando da chegada ao Recife do dirigível Graf-Zepellin, o seu comandante assistiu a uma apresentação do quarteto e se mostrou deveras entusiasmado, levando para o velho mundo a melhor de suas impressões.

No dia 9 de janeiro de 1970, no Real Hospital Português, na cidade do Recife - PE, rodeado de parentes e amigos, o grande compositor fechou os olhos. Após o seu desenlace, a viúva Almerinda Amélia da Silva recebeu a medalha de Honra ao Mérito que a ele foi deferida. Viveu o tempo que pode, deixando como única e inalienável riqueza, toda uma obra composta de Valsas, Frevos, Maracatus, peças folclóricas e religiosas. Neste ano do Centenário do seu nascimento, o CEMCAPE – Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco – homenageia o grande professor com esta coletânea de frevos-de-rua e frevos-canções, incluindo ainda inéditos.

Comentário:
Penuel Pereira Ramos

O Tema é Frevo: Documento vol.1


Músicas


1-DIABINHO DE SAIA
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1938

Diverge do frevo-de-rua como o conhecemos. Foi gravado originalmente com o gênero de marcha-frevo, daí a transparência da divergência. Coube à Orquestra Diabos do Céu a gravação original em 78 rpm, que recebeu o nº 34.294-B, pela Victor, em 10/01/1938. Agora, está em segunda gravação em disco LP, intencionalmente para levar ao conhecimento dos apreciadores do frevo-de-rua a concepção do frevo da época. Bela gravação apresentada pela afinação da Orquestra do maestro DUDA.

2-FALA, PIERROT
Música: Levino Ferreira
Letra: Nestor de Holanda
Intérprete: Expedito Baracho
Frevo Canção - 1940

Levino Ferreira foi um devoto da banda de música. Cultor da melodia, sua obra notabiliza-se pela música instrumental. Na sua discografia há apenas lances da música cantada. Um desses lances é o "Fala, Pierrot", composto para o carnaval de 1940, mas nunca levada a efeito sua gravação. É um frevo-canção bem a gosto da época, com um singularíssimo detalhe: trata-se de uma parceria com Nestor de Holanda. Coube a Levino Ferreira a "música" e a Nestor de Holanda, a "letra". É o único caso conhecido de parceria de Levino Ferreira. Nestor de Holanda, pernambucano de Vitória de Santo Antão, dedicou-se a atividades literárias e artísticas, fazendo jornal, música e teatro. Na música, foi parceiro de Ari Barroso, Fernando Lobo, João Valença, Nélson Ferreira. Suas músicas foram gravadas por nomes como Elisete Cardoso e Francisco Alves. Contamos nesta gravação com a voz impecável de Expedito Baracho.

3-CADÊ VOCÊ
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1944

Depois das gravações "Mexe com Tudo" e "Segura Esse Diabinho", de 1940 e 1941, Levino Ferreira grava para delírio dos foliões, em 1943, o irresistível frevo-de-rua "Cadê Você". É o começo das gravações de "O Mestre-Vivo" com a Orquestra de Zaccarias que se estendem durante todos os anos quarenta (40). Gravação original Victor nº 80.0141-A, 78 rpm, em 11/10/1943.

4-PERNAMBUCO FALANDO PARA O MUNDO
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1948

Os impecáveis frevos-de-rua de Levino Ferreira estendem-se nos anos de 1944, 1945, 1947 e 1949. Há uma lacuna no ano de 1948. Desconhece-se o motivo de não-gravação nesse ano. Em pesquisa para realização do presente LP "Centenário Levino Ferreira", o CEMCAPE alcança o frevo-de-rua inédito "Pernambuco Falando para o Mundo". Não há registro evidente da razão desse título. Trata-se, ao nosso ver, de homenagem que o autor estende à Rádio Jornal do Commercio que, na época, usava esse título como "slogan" característico da sua presença no ar. Agora, com esta gravação, desaparece a lacuna do ano de 1948.

5-LÁ VAI TEMPO
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1949

É abundante o número de gravações de frevos-de-rua de Levino Ferreira no ano de 1949. Nada menos de três (3) composições são gravadas: "Com Essa Eu Vou", 78 rpm, Gravadora RCA Victor, com Zaccarias e Sua Orquestra; "O Macobeba Vem Aí", 78 rpm, Gravadora Continental, com Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara e "Solta o Brotinho", 78 rpm, Gravadora Odeon, com Raul de Barros e Sua Orquestra. O "Lá Vai Tempo" foi composto para o carnaval de 1949, porém não gravado. Fazemo-la agora sob a batuta do maestro DUDA e Sua Orquestra

6-ULTIMO DIA
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1951

É o frevo-de-rua mais festejado do carnaval de Pernambuco. Para muitos, a melhor composição carnavalesca de Levino Ferreira. Há inúmeras gravações, sendo a original em 78 rpm, Gravadora Continental, nº 16.321-A, com a Orquestra Tabajara de Severino Araújo, no ano de 1950. Incluímo-la aqui pela sua beleza inconteste e pelo seu caráter antológico.

7-RÁDIO PATRULHA
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1951

No segundo Governo de Agamenon Magalhães, em 1950, a Polícia Militar de Pernambuco formou uma unidade composta de homens de físicos diferenciados, com a finalidade de combater a crescente marginalidade. "A nova Tropa teria uma Central de Rádio que, quando solicitada pelo povo, acionaria a guarnição postada nas redondezas do local de chamada". Foi chamada de Radiopatrulha. Levino Ferreira não se descuidou do acontecimento, compondo o seu "Rádio Patrulha", frevo-de-rua para o carnaval de 1951, que, só agora, recebe sua gravação. É uma homenagem à Polícia Militar de Pernambuco.

8-O TUBARÃO
Composição: Levino Ferreira
Intérprete: Expedito Baracho
Frevo Canção - 1952

No ano de 1951, Levino Ferreira grava sua primeira música cantada, o frevo-canção "O Tubarão". A música alcança retumbante sucesso nacional na voz do cantor Carlos Galhardo, Orquestra de Zaccarias e Coro, disco RCA Victor nº 80.0833-B, 70 rpm, de 02/08/1951. De indiscutida atualidade, enfeixamo-la nesta seleção. Esta segunda gravação conta com o concurso do cantor Expedito Baracho, uma voz de beleza rara.

9-CARLOS AVELINO
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1953

São em número de quatro (4) os frevos-de-rua gravados por Levino Ferreira no ano de 1952 : "Retalhos de Saudade", "Estou Queimado", "Barulho no Salão" e o que escolhemos para participação deste disco LP, "Carlos Avelino". Trata-se de uma homenagem de Levino Ferreira a Geraldo Vila, proprietário da casa comercial Violão de Ouro, pai de Carlos Avelino. Foi gravado originalmente com a Orquestra de Zaccarias, disco RCA Victor nº 80.1028-B, em 25/08/52.

10-GRAÇINHA NO FREVO
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1954

Belíssimo frevo-de-rua gravado originalmente com a Orquestra Tabajara de Severino Araújo, disco Continental nº 16.879-A, 78 rpm, em 1954. Homenagem de Levino Ferreira a seu vizinho Artur Napoleão, pai de Gracinha.

11-POROROCA
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1956

Primeiro Frevo de Levino Ferreira, composto no início dos anos 30 e só gravado em 12.08.55, com a Orquestra de Jonas Cordeiro, disco Odeon nº 13.884-B, em 78 rpm. Em 1933, concorreu no concurso de música carnavalesca patrocinado pelo Diário de Pernambuco, onde participaram, entre outros, Antônio Sapateiro e Zumba. Em outro concurso realizado na cidade de Limoeiro, obteve o 1º Lugar. No ano seguinte (1934), concorreu com o frevo "Satanás na Onda" no concurso instituído pelo Diário da Manhã, obtendo o 1º lugar , sendo gravado também pela Odeon, sob a direção de Simão Bountman, para o carnaval de 1935.

12-BUENO NO FREVO
Composição: Levino Ferreira
Frevo de Rua - 1962

Maravilhoso frevo-de-rua dedicado ao seu filho Bueno Ferreira. A gravação original data de 1962, com a Orquestra de Zaccarias, LP "Frevo 40 Graus", nº BBL-1159-B3, disco RCA Victor. Bueno Ferreira, atualmente, é músico da Orquestra Sinfônica Nacional.

Comentário:
Bartolomeu Noronha - 1º Secretário do CEMCAPE

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Fonte: Acervo Fonográfico do Museu do Frevo Levino Ferreira

Ficha Técnica

Produção: Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco - Cemcape
Produção executiva: Hugo Martins
Direção musical: Duda
Assistente de Direção Bartolomeu A. Noronha, Ceiça Moreno e Joel Santos
Técnico de gravação e Mixagem: Tião
Pesquisas: Hugo Martins, José Batista Alves e Penuel Pereira Ramos
Seleção Musical: Museu do Frevo Levino Ferreira
Layout: José Batista Alves e Penuel Pereira Ramos
Estúdio de gravação: Estação do Som - 16 Canais - Recife 1990.
Realização: Museu do Frevo Levino Ferreira.

Gravações realizadas nos dias 24,25,26,29 e 30 de janeiro de 1990.


Uma homenagem ao compositor Levino Ferreira no centenário de seu nascimento.


Músicos

Sax alto e Soprano: Duda
Sax alto: Marcelo Vilor
Sax tenor: Lima Neto
Sax barítono: Costinha
Trombones: Flávio, Jadson e Nino
Trompetes: Enoque, Marquinhos e Salatiel
Caixa: Adelson
Surdo: Nildo
Pandeiro: Adão
Contrabaixo: Nando
Teclado: Tovinho
Cantor: Expedito Baracho
Coral: Ceiça Moreno, Chico, Lena, Magazine, Mida e Simone




Arlequim